Ela não lembrava o número da casa, tampouco o bairro, só se lembrava da rua. Lembrava do sorriso dela dizendo o nome da sua rua e seu número de telefone, mas, por alguma razão que ela não sabia, ela não conseguia se lembrar do detalhe mais importante: o número da casa daquela menina tão linda. Sim, claro que ela sabia qual era a razão: enquanto ela dizia esse pequeno detalhe, ela já havia se perdido no seu sorriso e nos seus olhos cor de madeira brilhantes.
Aquelas ruas cheias de pedras, aquela igrejas descascadas e, para ela que não entendia nada a respeito, todas amarelas desbotadas, aqueles morros e toda aquela neblina.. Que cidade linda. Que vontade de sentar no muro de uma igreja qualquer e deitar no colo dela, olhar o céu e todas aquelas nuvens brancas com formatos de coisas engraçadas. Encarar aquele olhar tão incrível que por tanto tempo parecia intocável, impossível. Acontece que agora não é mais. Agora ela está aqui.
Não.. Não está mais. Ela foi. Não por muito tempo, mas foi. E agora ela está tão longe quanto seu coração, que costumava bater bem juntinho ao meu. Ela não está mais aqui dormindo ao meu lado e me acordando com beijinhos, ela não está mais aqui pra eu cuidar, pra eu encarar, tirar sorrisos e amar. Tão pouco tempo. Por quê, né?
Porque a vida é assim, ela é cheia de encantos, travessuras e perigos. Você é minha mais nova travessura e meu mais novo encanto, só que esse encanto não parece ter fim. Já foi um, logo menos será dois e daqui a pouco, anos.
Não vejo a hora de ter ela de mãos dadas comigo novamente, de poder parar ela no meio da rua e gritar para o mundo, ou só pra essa cidade tão pequena e tão cheia de traços bonitos, o quanto ela é minha. Essa cidade antiga que guarda tantas histórias, que já foi berço de muitos contos e paixões, que já guardou muitas lágrimas e já resguardou muitos abraços. Nessa cidade que nós não gostamos tanto de estar, mas que achamos uma razão para ficar.